Passam as pessoas.
Roda-se a quilometragem.
Escapam, quase que despercebidos, os segundos.
Da janela, vê-se carros afobados,
acompanhados de suas buzinadas ensandecidas,
cada um a seguir sua rota,
a seguir a mesma direção:
sem rumo.
Os olhares daqui assustam,
transmitem um vazio náuseo-arrepiante
― e tudo parece meio acinzentado, meio mofado, meio morto ―
de pessoas cansadas, enfadadas, ressecadas,
de um vai-e-vem rotineiro, sangue-suga
da mente, do corpo, do espírito,
a consumir o último suspiro de sensibilidade
― ainda, e com dificuldade, emanado por aqueles
que tentam sobreviver a essa selvageria de concreto.
Cruel.
Sopra o vento quente,
(ainda existe vento?)
contrapondo-se a essa frieza.
Pra lembrar a nós,
mortais,
de nós.
[Tempo, tempo, tempo...]